sábado, 26 de junho de 2010

MISSIONÁRIOS NÃO SÃO ATIVISTAS SOCIAIS

                                                                                        

         A morte, no Pará, a 12 de fevereiro de 2005, de Dorothy Mae Stang, freira americana, teve desdobramentos que estimulam à reflexão. Os ambientalistas presentes ao sepultamento ditavam palavras de ordem nada religiosas. O sotaque fortemente estrangeiro de outros participantes, exigindo providências ao Departamento de Estado norte americano, e a presença arrogante do FBI, Polícia Federal Americana, aceita passivamente pelas autoridades brasileiras, mostravam que a freira buscava algo mais que a conversão dos que a acolheram naqueles confins amazônicos.
 Há muito sabemos do jogo de interesses internacionais na Amazônia. A localização dos territórios indígenas “coincide”, em grande parte, com imensas reservas minerais, que, a partir da homologação, terão acesso proibido, impedindo, portanto a exploração dessas riquezas; a preservação da floresta, que as Organizações Não Governamentais (ONGs) querem manter  intacta, igualmente impediria a transformação da mesma em riquezas; além disto, a iníqua distribuição da terra estimula conflitos agrários, fazendo surgirem movimentos aparentemente legítimos, mas de um conteúdo  altamente explosivo.
Os chamados ambientalistas não se preocupam com a veracidade ou não das idéias que propagam, como, por exemplo, a desertificação da terra, o derretimento das calotas polares, o efeito estufa. Nada disto se comprova cientificamente. No caso das calotas polares, estudos recentes indicam que está ocorrendo exatamente o contrário. Os ambientalistas se parecem muito com os malthusianos do século dezenove, que previam um crescimento populacional superior à capacidade planetária de produzir alimentos, o que evidentemente não aconteceu. Ao contrário, estatísticas mais recentes indicam que a população da terra se estabilizará muito antes de esgotados os meios de alimentar a humanidade.  
Atuando como pano de fundo na maioria das manifestações em defesa do meio ambiente, das minorias e dos direitos humanos, encontram-se as ONGs, que são hoje em dia  instrumentos complementares de política externa dos países ricos. Legitimou-se na Organização das Nações Unidas, ONU, o princípio da soberania nacional limitada e esta organização passou a respaldar intervenções dos fortes sobre os fracos.  As recentes guerras no Afeganistão e no Iraque são exemplos dessa nova doutrina. Pode-se inferir, a partir do princípio da soberania limitada, que, para se tornar independente, uma “nação” indígena só precisaria declarar-se insatisfeita com a tutela do país a que pertence, pedindo em seguida o protetorado da ONU. Estes aspectos são extremamente importantes e a Igreja não pode ignorá-los. Não deve, todavia, ceder às tentativas de arrastá-la aos engajamentos políticos. Por tudo isto a morte dolorosa e trágica de Dorothy nos convida a refletir sobre as agências humanitárias (ONGs), que se oferecem para fazer missões, sem nada terem a ver com o evangelho.
O ativismo não é uma ideologia, mas um método de ação. Tanto pode servir a um grupo religioso, quanto a um partido político. Emprega técnicas de mobilização popular,  não descartando a violência, e pode atuar sob a forma passeatas, greves, terrorismo,  seqüestros, desobediência civil e outras manifestações. Foi usado com sucesso pelos bolchevistas, na revolução russa de 1917, e pelos  aiatolás, na derrubada do Xá, no Irã.
Quando dirigi a Escola de Missões das Assembléias de Deus, EMAD, tomei conhecimento de igrejas que delegam tarefas missionárias às agências. Desta terceirização resulta que o missionário pode encontrar no campo um cenário diverso daquele que esperava. Sem outra opção, envolve-se com atividades políticas ou sociais, em detrimento da evangelização, tornando-se, neste caso, um simples ativista. Passa à militância de uma causa que não é a sua, e para a qual não foi chamado por Deus, nem enviado pela igreja. Atuando com grupos que manipulam as tensões sociais, é levado, sem querer, ao engajamento político e com este surgem as mais dramáticas conseqüências.
A morte de Dorothy resultou de tudo isto. Não se trata de um martírio em nome do evangelho, mas é o resultado da insensatez humana, que, extrapolando a atividade missionária, posicionou a freira no epicentro de um conflito de forças sociais incontroláveis e antagônicas. Para se ter uma idéia da natureza destas forças, basta citar a entrevista do presidente do Sindicato Paraense de Pecuária de Corte, Francisco Alberto de Castro, a O Globo de 19 de fevereiro de 2005 página 5: “o assassinato da freira americana tem como origem desavenças entre ela e colonos dos projetos que ela defendia. Estão endeusando uma pessoa que está mais para capeta do que santa”. 
Sabemos que um ministério holístico inclui também atividades assistenciais. Jesus, o maior de todos os missionários, não só pregava, mas ensinava e curava. Todavia, nunca se envolveu em disputas que não interessavam ao reino de Deus. No episódio da multiplicação dos pães, após realizar uma tarefa tipicamente assistencial, alimentando famintos, percebeu a mobilização política da multidão que alimentara, no sentido de fazê-lo rei. Para isto Jesus viera, mas não na crista de uma onda política. Percebendo o que estava para acontecer, diz o texto em João 6.15 que Jesus retirou-se sozinho para o monte. Eis aí, na prática, o exemplo a ser seguido pelas lideranças missionárias do nosso tempo.
         O cristianismo jamais visou à conquista do poder temporal. Portanto, como religião, não deve se engajar em atividades políticas. Isto não significa dizer que o cristão não possa exercer essa atividade. Como sal da terra e luz do mundo, somos estimulados a participar de tudo o que possa promover o bem comum. Mas existem ações que devem ser empreendidas fora do ambiente sagrado do templo e dentro dos princípios que regem a ética cristã.
Percebe-se claramente que os ambientalistas, aliados a outros segmentos da  sociedade, assumiram expressiva parcela do poder público e conquistaram a grande mídia. Por isto procuram infiltrar-se nas igrejas através das ONGs, até mesmo financiando o envio de missionários, ou ajudando projetos sociais. Buscam tão somente ampliar o espaço para divulgação de sua causa. Os pastores devem ser cautelosos, para não delegarem a essas instituições a missão mais relevante da Igreja: Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura.                                                                                                         
                    
 Pr. Paulo  Ferreira     

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