quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Vale apena ver de novo.





Claudionor de Andrade
30/01/2013 11:58

Ariano Suassuna e o prendedor de roupas

Em palestra imperdível, o poeta e romancista nordestino defende o Criacionismo
Assisti recentemente a uma conferência de Ariano Suassuna, que me levou a algumas reflexões teológicas. Aliás, não foi bem uma conferência; foi uma aula show. Talvez o mestre paraibano, por sua natural modéstia, não aceite essa designação. Mas, no momento, não acho outra melhor; vai essa mesma. Naquela uma hora e pouco em que permaneci ligado à internet, passei a conhecer outro aspecto da rica personalidade do poeta e romancista, que jamais escondeu o seu amor pelas coisas sertanejas e incompreendidas de nossa terra. Descobri que, sob aquela imensa cultura que transcende estilos e discursos, há um cristão que não se envergonha do Cristianismo.

Boa parte dos intelectuais faz questão de se declarar ateia. Acha essa gente que a descrença em Deus é aquele derradeiro toque que não pode faltar à formação do homem pós-moderno. Eles são fruto de uma academia que, incapaz de ver além de seus horizontes, reduziu-os a pensar que, no arcabouço das conquistas humanas, a religião é um detalhe mero e descartável. Ariano Suassuna não pensa assim. Embora conheça profundamente a filosofia, e sendo ele mesmo filósofo, faz questão de declarar a sua fé nas crenças bíblicas, entre as quais, durante aquela sua palestra, empenhou-se por destacar o Criacionismo.
O prendedor de roupas

Com um sotaque encantador, que lembra o Nordeste e não esquece o Brasil, Suassuna começou, num daqueles parêntesis que só ele consegue fazer, a encarreirar os absurdos de Darwin. Num dado momento, disse que tiraria algo de sua pasta, a fim de provar as incongruências do Evolucionismo. Ele deixou bem claro que não seria a nona sinfonia de Beethoven, nem a Divina Comédia, de Dante Alighieri, pois não queria humilhar os macacos.

Depois de revirar a sua velha e surrada pasta, tirou dali um prendedor de roupas. Em seguida, passou a mostrar o engenho simples, porém eficientíssimo, daquele instrumento que, em todo o mundo, democratiza as roupas, unindo-as em fios e arames comuns. Depois de exibir o mecanismo daquele solitário objeto, acrescentou: “Quem inventou este prendedor é um gênio. Com simples movimentos, prendo e solto minhas roupas. Logo, o macaco nem daqui a quinhentos milhões de anos conseguiria criar algo parecido”.

Sei que algumas pessoas naquele auditório não gostaram do comentário do autor do Auto da Compadecida. Como ninguém ousasse manifestar-se, Ariano prosseguiu afirmando que é mais lógico acreditar no Gênesis da Bíblia Sagrada do que no enredo de Charles Darwin.
A tirania do politicamente correto

Ariano Suassuna deixou bem claro não estar nem um pouco preocupado com o politicamente correto, essa tirania pós-moderna que nos impede de dizer o que pensamos. Aliás, quando alguém antepõe a locução “politicamente correto” a um discurso, na verdade quer dizer: esquerdista ou ateisticamente correto. Isto porque, hoje, não se pode falar, nem sequer pensar, fora dessas fronteiras. Se nos atrevemos a nos expressar além desses limites, logo aparece um representante da esquerda, ou um apóstolo do ateísmo, para impor-nos a sua censura. Sim, justamente eles que tanto apregoam a liberdade de expressão.

O bom e velho Suassuna, porém, mostrou que não podemos curvar-nos à tirania do politicamente correto. Devemos, sim, manifestar-nos com transparência e franqueza. Caso contrário, o politicamente correto transformar-se-á num monstrengo semelhante à Revolução Cultural de Mao Tsé-Tung. Aliás, tal fantasma já vem assustando até mesmo democracias fortes e vigorosas como a norte-americana. Se não nos precavermos, virá o dia em que todos teremos de portar um livrinho vermelho, indicando-nos o que falar e pensar. Aliás, desconfio de que tal documento já esteja no prelo, pois não são poucas as tentativas de calar-nos a boca e sufocar-nos a consciência.
Voltemos, porém, ao prendedor de roupas de Ariano.
Nem Aquino, nem Newton

Depois de ouvir Suassuna, constatei que não preciso de Tomás de Aquino, a fim de provar a existência de Deus. Posso substituir as cinco vias do teólogo italiano pelo único prendedor de roupas do poeta de João Pessoa e de todas as gentes. Sim, dois gravetos movidos por uma molinha de metal são suficientes para mostrar que Deus realmente existe e que o homem não é fruto de evolução alguma.

Na apologia da fé cristã, usamos às vezes complicados argumentos cosmológicos, e não deixamos de reclamar a ajuda de Newton. Mas, para quem está disposto a crer, basta um apertãozinho do prendedor de Ariano, e as vestimentas do bom-senso logo se ajustam ao corpo da fé cristã. Por que, então, a complexidade da mecânica celeste se temos um mecanismo tão singelo e prosaico como o prendedor de roupas do poeta?
Uma parábola que não foi escrita

Não sei dizer se à época de Jesus já existia prendedor de roupas. Mas, caso existisse, daria uma boa parábola, pois o Senhor, conquanto Mestre dos mestres, era um homem simples e apreciador das coisas singelas. E de cada uma destas, tirou preciosas lições. Da pequenina semente da mostarda, extraiu Ele a grande doutrina da fé. Na dracma perdida, fez-nos achar o real valor da vida. E com a ovelhinha que se extraviara, tangeu-nos ao Bom Pastor.

Jesus também nunca se dobrou ao politicamente correto. Acho que Suassuna muito aprendeu com o Nazareno. Para o homem que se apresentou como a própria verdade, a mentira, ainda que aceita pela sociedade, sempre traz prejuízos à nação. Por isso, entre a aparente correção do pós-modernismo, que tem na velha e matreira serpente a sua inspiração, façamos como o mestre paraibano. Mostremos que há mais proveito num prendedor de roupas do que em teorias esdrúxulas e esquisitas como a de Charles Darwin.

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